Nua é um projeto musical que consiste da gravação de uma música inédita, um videoclipe e um vídeo alternativo com visualização das ondas sonoras do fonograma.
Neste projeto, foi criado um videoclipe sobre uma composição inédita de Hebert Valois, compositor jacobinense que, embora gravado por terceiros na Bahia e em São Paulo, jamais havia publicado um produto fonográfico completamente autoral, configurando assim, esse projeto como a sua estreia como intérprete.
Nua, canção de 2015, foi composta de uma só vez, numa trilha solitária pelas serras jacobinenses e pretendia traduzir, ao mesmo tempo, dois sentimentos. O primeiro originado pela rememoração da perda pessoal de uma mulher bastante forte e liberada, que enfrentou, em contextos sociais ainda mais restritivos que os atuais, muitos preconceitos, mantendo sempre a altivez, suavidade e resiliência. O segundo parte da sensação de humilhação e impotência que um ataque homofóbico impõe a quem o sofre, ainda mais quando há proximidade e afeto com o agressor.
Em Nua, uma personagem com eu-lírico feminino desafia a sociedade conservadora a encará-la como é, inteira e imperfeita, mas viva e com suas próprias paixões, às quais têm legítimo direito. Ela reclama ser ouvida e se expõe, como pode, embora reconheça ainda estar presa a amarras e convenções.
De forma elegante, provocativa, mas propositadamente invulgar, o videoclipe acompanha a jornada dessa personagem, que parte da solidão absoluta à solidão relativa de quem, mesmo em sociedade, ainda se sente desamparado e invisibilizado.
Ficha técnica
- Hebert Valois (Letra e música, Vocais)
- Erica Navarro (Violoncelo, Baixo, Synth)
- Priscila Brigante (Bateria)
- Rovilson Pascoal (Guitarra)
- Hebert Valois e Erica Navarro (Produção Musical)
- Fernando Sobreira (Mixagem e Masterização)
- Hebert Valois (Concepção, direção e montagem)
- Simone Valois (Produção de Arte)
- Juliano Lima (Cinegrafia)
- Hebert Valois (Desenho de figurino e maquiagem)
- Juliano Lima e Simone Valois (Produção)
- Mara Matos (Costureira)
A realização deste projeto e a produção do videoclipe Nua representam uma grande realização profissional e um marco na produção artística de Hebert Valois, tanto em termos objetivos, seja como diretor de arte e audiovisual, compositor ou intérprete, quanto em termos mais subjetivos, relacionados a sua própria visão de mundo e à sua expressividade.
Com este trabalho, ele se apresenta artisticamente de maneira inédita como cantor e se expõe, ainda que inadvertidamente, como a face que ilustra a canção. Como marca de diversos imprevistos que permearam este projeto, em sua concepção original, o videoclipe seria construído para não mostrar explicitamente o compositor, deixando-o aparecer apenas por alguns breves segundos ao final da canção.
Ao contrário, a ideia era substituí-lo por um avatar: uma figura de gênero indefinido, que não reproduzisse de forma óbvia as os binarismos de gênero e provocasse ao espectador a sensação de estranhamento e dúvida. Desde o início do processo, foi fundamental encontrar a pessoa certa para esse papel, o que veio a acontecer de forma surpreendentemente fácil.
A gravação da música, a princípio, ocorreria em um processo de trabalho remoto, sendo os músicos convidados residentes de São Paulo, onde Hebert viveu por dezesseis anos e onde mantém vínculos intensos. Por conta de uma viagem pré-agendada para o estado em março, no entanto, a produção do videoclipe foi planejada para ser realizada com um processo invertido, pouco usual, onde primeiro seria realizada a gravação das imagens e, só posteriormente, a da música. Isso permitiu uma troca intensa entre os produtores na concepção do arranjo e um aprofundamento do conceito musical inicial, deixando o resultado mais elaborado e musicalmente complexo.
Contratada a protagonista, seguiu-se o processo de produção sob medida do figurino: traje e armadura, simultaneamente, por todo o primeiro mês da produção. Aproximando-se a data da viagem, foram agendados três dias para as gravações em cenários que representassem de forma sutil, mas inconfundível, as paisagens jacobinenses, tanto em seus aspectos naturais, quanto urbanos. No dia marcado para a gravação, no entanto, a protagonista não compareceu, nem justificou sua ausência.
Sem possibilidade de remarcar e tendo servido, por ter compleição parecida, de modelo durante a feitura da armadura, com pequenos ajustes no figurino, Hebert assumiu a posição de protagonista nas imagens, subvertendo o conceito original e causando ainda, mesmo com outra abordagem, a estranheza do corpo indefinido e não-polar.